Sambando à beira do precipício
StartFragment Aqui no blog, já acompanhamos muitas vezes textos que explicam ideias simples, corretas, às quais todos deveriam aderir, por se tratarem de verdades que se confirmam por sua lógica e pela documentação que as comprovam. Os textos que o nosso companheiro Douglas Nascimento fez à respeito de diversos temas políticos e ideológicos são exemplos destas ideias simples que se confirmam pela coerência e validade lógica que possuem.
Ainda assim, tais ideias, por mais coerentes que sejam, ainda são do desconhecimento da maioria da população - razão pela qual justamente esta ainda não acordou para os problemas implícitos, e muitas vezes explícitos, que o país enfrenta. Por que isso acontece?
Se olharmos a sociedade na qual vivemos, o panorama geral com o qual nos deparamos é o de uma população desinteressada, manipulada pelas políticas mais básicas do "pão e circo", e que desvaloriza tudo o que é culto. Um cenário assim não é exclusividade do povo brasileiro, mas sim do povo, como ele sempre foi, desde quando as primeiras civilizações surgiram na face da Terra. Entendendo isso, podemos atestar que o desconhecimento do povo à respeito de ideias que deveriam conhecer é consequência do desinteresse natural que há pela busca do conhecimento em geral. Discutiremos tal desinteresse mais a fundo em outros textos. Por hora, precisamos entender algo mais básico: aquilo pelo que o povo realmente se interessa.
O verdadeiro ópio do povo
Marx dizia que a religião é o ópio do povo; se ele vivesse nos dias atuais, certamente mudaria de opinião.
As pessoas sempre preferiram trocar um jornal por uma revista, um telejornal por uma novela, um documentário por um filme de ação qualquer, um livro por horas no Facebook, e assim por diante. A razão geral que explica este comportamento revela o real interesse das pessoas: o entretenimento. Nada no mundo atrai mais a atenção do povo que o entretenimento. Este sim é o ópio do povo. Ele sempre existiu, desde a antiguidade, mas após o surgimento da internet, ele se diversificou, tornou-se mais acessível e muito mais presente na vida das pessoas.
Aparentemente, não há motivos para achar que isso seja prejudicial, a menos que o conteúdo presente nas diversas formas de entretenimento seja irrelevante, imbecil e muitas vezes ridículo, como é o caso do conteúdo do entretenimento no Brasil.
Já que tudo aquilo que entretém acaba por atrair a atenção do povo como nada mais no mundo é capaz de fazê-lo, um entretenimento imbecilizante naturalmente cria uma mentalidade popular imbecilizada. E não é uma mentalidade assim que temos visto nos brasileiros?
Quem está no poder, seja em qualquer sociedade de qualquer período da história da humanidade, sempre soube da influência que o entretenimento tem, e tratou, sempre que possível, de controlar os agentes que o fazem acontecer. Eles nunca se preocuparam em dar proridade ao controle dos meios cultos usados para se transmitir uma ideia que lhes afronte, justamente porque eles sabem que o povo, inculto por natureza, não tem interesse em tais meios. Como bem disse E. B. White: "Um déspota não teme que autores eloquentes preguem a liberdade - ele teme que um poeta bêbado faça uma piada que vire moda".
Por isso o governo está sempre mais preocupado em censurar músicas a livros, filmes a artigos de jornal, e assim por diante. Por isso também, até hoje, quando ouvimos o povo falar dos ideais contrários aos militares que eram secretamente disseminados na época da Ditadura, eles nunca citam artigos ou qualquer outro meio formal usado por autores eloquentes, mas sempre falam das músicas e obras dramatúrgicas pelas quais tais ideais eram disseminados.
Portanto, o tipo de ideias mencionadas no início deste texto, que deveriam ser do conhecimento de todos(e não o são), só podem ser facilmente disseminadas pela via do entretenimento, seja ele de que tipo for(música, dramaturgia, conteúdo exibido na internet, etc), uma vez que o povo, por si só, não se sente instigado a correr atrás da verdade. Porém, as medidas de controle que os governos costumam impor ao entretenimento jamais permitirão que o povo tenha acesso àquilo que realmente importa. Os governos enxergam o povo como massa de manobra, e por isso não querem que a inteligência se dissemine nele. Graças a isso, o controle sobre o entretenimento é exercido de diversas formas, em diversas medidas. Geralmente, tais medidas de controle carregam consigo um conjunto de pretextos que servem para camuflar seu real objetivo, que é, e sempre será, controlar o tipo de ideais que estão sendo disseminados.
Aqui no Brasil, isso pode ser visto na Lei Rouanet e no Humaniza Redes; mas o esforço de controle não é tão grande, uma vez que o entretenimento por aqui já é imbecil e irrelevante o suficiente para fazer as pessoas não pensarem em questões mais sérias que façam o governo se preocupar; basta por exemplo, ver as letras das músicas que mais fazem sucesso, cujo conteúdo resume-se em paixões de relacionamentos superficiais, conotação sexual, baladas, bebidas e ostentações fúteis. Se formos pegar também um dos maiores representantes do entretenimento atual, que é o Youtube, observaremos que os canais com mais inscritos apresentam conteúdo extremamente irrelevante.
Enquanto as pessoas se prendem a tudo isso e permanecem indolentes, o país afunda cada vez mais na crise econômica e política. Afinal de contas, em que mundo vivem os brasileiros?
A solução óbvia
Distraídos por um entretenimento burro e manipulado, o povo não enxerga a real situação do país, os reais problemas e as verdadeiras soluções para tais - que não se resumem a um simples e preguiçoso "Fora Dilma"; porque o povo, ao dedicar toda a sua atenção a tal entretenimento(que no Brasil é irrelevante e fútil), fecha-se em um mundo imbecilizante que o Isola da realidade. Uma vez que não há perspectivas de que o entretenimento no Brasil deixará de ser como é, a única saída para os brasileiros é buscar o conhecimento por si mesmos, informando-se do que está acontecendo ao seu redor, buscando sempre as fontes primárias de todas as notícias e não deixando-se enganar por qualquer discurso ou informação desprovidos de credibilidade. Acima de tudo, falta-nos deixarmos todos os nossos preconceitos e preferências de lado e enxergar todas as situações com racionalidade e senso crítico. Caso tais atitudes não sejam tomadas, como disse a revista The Economist, o brasileiro continuará sambando à beira do precipício.